Tratamento Antimicrobiano Eficaz Contra Bactérias Gram

Tratamento Antimicrobiano Contra Bactérias Gram-Negativas Multirresistentes

O tratamento de infecções causadas por bactérias Gram-negativas multirresistentes (MDR-GNB) é um desafio crescente na prática médica. A resistência antimicrobiana tem se tornado uma preocupação significativa, especialmente no Brasil, onde a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançou uma diretriz pioneira para padronizar as condutas terapêuticas diante desse cenário alarmante.

Contexto Epidemiológico

A diretriz da SBI aborda a realidade epidemiológica do país, destacando dados recentes da ANVISA de 2023. Esta informação evidencia as altas taxas de resistência a carbapenêmicos, observadas em patógenos hospitalares como:

• Acinetobacter spp.: 78,8%
• Klebsiella pneumoniae: 58,3%
• Pseudomonas aeruginosa: 40,5%

Essas informações são alarmantes, pois a resistência, especialmente entre os Enterobacterales, representa um grave problema de saúde pública. A limitação das opções terapêuticas e o impacto na mortalidade hospitalar são questões que exigem atenção imediata.

Diretrizes e Recomendações

A diretriz proposta pela SBI é um documento de consenso multidisciplinar que reflete as limitações do contexto nacional, como a heterogeneidade no acesso a antibióticos e as variações regionais na prevalência de patógenos. O objetivo é fornecer orientações claras para clínicos e infectologistas na escolha de terapias efetivas para infecções complexas.

O desenvolvimento deste documento foi baseado em um processo de consenso formal, revisão da literatura recente e ampla participação de especialistas de diferentes regiões do Brasil, garantindo que as recomendações sejam adaptadas às realidades locais.

Recomendações Terapêuticas

As recomendações são organizadas segundo o agente etiológico e o sítio de infecção, abrangendo infecções respiratórias, de pele e partes moles, corrente sanguínea, intra-abdominais e do trato urinário. Os autores discutem os principais mecanismos de resistência e a farmacologia de novos agentes antimicrobianos. A individualização do tratamento é enfatizada, considerando não apenas os resultados dos testes de sensibilidade, mas também parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos, toxicidade e disponibilidade dos fármacos.

Enterobacterales Resistentes a Carbapenêmicos

Os Enterobacterales resistentes a carbapenêmicos possuem mecanismos de resistência como a produção de carbapenemases das classes A (KPC), B (NDM, VIM) e D (OXA-48 e variantes). Para esses casos, são recomendadas combinações de β-lactâmico/β-lactamase inibidor, como:

• Ceptazidima-avibactam
• Imipenem-relebactam

Quando há produção de metalo-β-lactamases, a combinação de ceftazidima-avibactam com aztreonam é recomendada, restaurando a atividade in vitro contra isolados resistentes.

Acinetobacter baumannii

O Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmicos é reconhecido como um dos patógenos mais letais no ambiente hospitalar. As opções terapêuticas são limitadas e incluem combinações de polimixinas com ampicilina-sulbactam ou tigeciclina. A diretriz alerta para a toxicidade renal associada a esses fármacos, ressaltando a importância de considerar o perfil de suscetibilidade local.

Pseudomonas aeruginosa

A resistência do Pseudomonas aeruginosa é complexa, envolvendo múltiplos mecanismos. As recomendações incluem o uso preferencial de ceftolozano-tazobactam ou ceftazidima-avibactam em infecções graves, enquanto agentes de espectro mais estreito podem ser utilizados em infecções menos severas. O uso de monoterapia deve ser restrito a casos com boa resposta clínica e cepas com suscetibilidade comprovada.

Interpretação dos Testes de Suscetibilidade Antimicrobiana

A diretriz também aborda a interpretação dos testes de suscetibilidade antimicrobiana, destacando a nova categoria “Suscetível, Exposição Aumentada (I)”, que redefine a leitura dos resultados laboratoriais. É importante ressaltar que a simples categorização como “I” não implica uso seguro em monoterapia, especialmente para isolados produtores de carbapenemases.

Conclusão

As diretrizes da SBI representam um marco no manejo de infecções por Gram-negativos multirresistentes no Brasil, articulando evidências científicas atualizadas com expertise clínica. Este documento é crucial não apenas para a escolha adequada de antimicrobianos, mas também para a implementação de uma estratégia integrada de controle de infecções e uso racional de antibióticos, sendo indispensável para o combate à resistência antimicrobiana no país.

Referências Bibliográficas

ZAVASCKI, Alexandre Prehn; CHEBABO, Alberto; CUNHA, Clovis Arns; SILVA, Alexandre Rodrigues; CUBA, Gabriel Trova; SANTOS, Daniel Wagner C. L.; GALES, Ana Cristina; et al. Guideline for antimicrobial treatment of multidrug-resistant Gram-negative infections: practice recommendations of the Brazilian Society of Infectious Diseases. Brazilian Journal of Infectious Diseases, 2025. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjid.2025.104589.

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