Desreguladores Endócrinos e Síndrome Metabólica em IScience

Relação entre Desreguladores Endócrinos e Síndrome Metabólica

Um estudo recente publicado na revista iScience em julho de 2025 revelou uma associação significativa entre a exposição a desreguladores endócrinos ambientais e um aumento do risco de síndrome metabólica em seres humanos. Este quadro é caracterizado por um conjunto de fatores que elevam a probabilidade de desenvolvimento de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, incluindo obesidade central, hipertensão, dislipidemia e resistência à insulina.

Pesquisas anteriores sugerem que a combinação de fatores ambientais e hábitos de vida pode influenciar o desenvolvimento dessa síndrome. Os desreguladores endócrinos são substâncias químicas presentes em diversos produtos do dia a dia, como embalagens plásticas, produtos de limpeza, pesticidas e equipamentos industriais. Essas substâncias têm a capacidade de interferir no funcionamento do sistema hormonal, o que levanta preocupações sobre seu impacto na saúde metabólica.

Metodologia do Estudo

A pesquisa foi uma revisão sistemática com metanálise, que analisou dados de estudos realizados até dezembro de 2024. Utilizando bases de dados como Web of Science, Embase e PubMed, os pesquisadores seguiram as diretrizes PRISMA para identificar, selecionar, avaliar e sintetizar os estudos relevantes. A análise incluiu apenas pesquisas que mediram a presença de desreguladores endócrinos em amostras de sangue e urina de humanos e que avaliaram a síndrome metabólica de acordo com os critérios NCEP-ATP III/IDF.

Os estudos foram categorizados em quatro classes principais de desreguladores: PFAS (substâncias perfluoroalquiladas), ftalatos, PCBs (bifenilas policloradas) e OCPs (pesticidas organoclorados). Quando possível, a análise também incluiu compostos específicos, como PFNA, PFOA e MECPP. O principal desfecho analisado foi a presença da síndrome metabólica, com as associações expressas como odds ratios (OR) com intervalos de confiança de 95%.

A variação entre os estudos, resultante de diferenças nas populações, desenhos e métodos de dosagem, foi quantificada para guiar a escolha do modelo estatístico mais apropriado. Modelos de efeitos fixos foram utilizados quando a variação era baixa, e efeitos aleatórios quando a variação era maior, adotando uma abordagem conservadora para garantir a validade dos resultados.

Resultados e Discussão

Os achados indicam que exposições elevadas a essas quatro classes de desreguladores estão associadas a uma maior probabilidade de desenvolvimento da síndrome metabólica. Por exemplo, o composto PFNA, uma substância da classe dos PFAS, mostrou estar correlacionado com um aumento da circunferência abdominal (OR 1,23; IC95% 1,10 – 1,38), enquanto o PFOA foi associado a alterações na pressão arterial (OR 1,05; IC95% 1,01 – 1,08). Entre os ftalatos, metabólitos como o MECPP demonstraram uma maior chance de síndrome metabólica (OR 1,16; IC95% 1,04 – 1,29). Os PCBs apresentaram um efeito significativo (OR 1,47; IC95% 1,13 – 1,93), e os pesticidas organoclorados mostraram a associação mais robusta (OR 1,97; IC95% 1,33 – 2,90).

Embora as associações encontradas não comprovem causalidade, evidenciam que fatores como dieta, ocupação e coexposição a múltiplos desreguladores podem introduzir viés nas estimativas. Portanto, a meta-análise sugere que os desreguladores endócrinos são fatores de risco relevantes para a síndrome metabólica.

Implicações Práticas para a Medicina

Com base nas evidências mapeadas, é fundamental que os profissionais de saúde aconselhem seus pacientes sobre medidas que podem minimizar a exposição a esses compostos. Algumas recomendações incluem:

  • Evitar alimentos ultraprocessados: Optar por produtos que não estejam armazenados em embalagens plásticas, preferindo recipientes de vidro ou aço inoxidável.
  • Reduzir o uso de pesticidas: Optar por alimentos orgânicos sempre que possível, para minimizar a exposição a pesticidas nocivos.
  • Minimizar o contato com produtos químicos: Evitar recibos de caixa ou notas impressas termicamente, que contêm bisfenóis, assim como produtos de limpeza com solventes.
  • Promover um estilo de vida saudável: Incentivar uma dieta equilibrada, prática regular de exercícios e controle de peso para mitigar os impactos desses compostos no organismo.

Conclusão

A revisão sistemática apresentada no estudo indica que a exposição a desreguladores endócrinos ambientais está associada a um risco aumentado de síndrome metabólica. Embora o aumento do risco varie entre as classes de compostos, os resultados reforçam a importância de se preocupar com a exposição a essas substâncias. Para a prática médica, a mensagem é clara: é essencial promover ações que visem reduzir a exposição e fortalecer as estratégias tradicionais de prevenção da síndrome metabólica. Estudos futuros devem se concentrar na investigação das exposições combinadas e na avaliação de intervenções que visem reduzir a presença de desreguladores em populações ao longo do tempo.

Referências

Pan K, Xu J, Li F, Aris AZ, Yu H, Xu Y, He J, Wang C. The relationship between metabolic syndrome and environmental endocrine disruptors: A systematic review and meta-analysis. iScience. 2025;28(7):1112907. doi:10.1016/j.isci.2025.112907.


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