
Tratamento do Câncer de Pulmão Não Pequenas Células com Mutações HER2
O câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) é uma das formas mais comuns dessa doença, e a presença de mutações no gene HER2 tem chamado a atenção da comunidade científica devido às suas implicações no tratamento. Evidências clínicas recentes demonstram a eficácia e o perfil de segurança do trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) no tratamento de pacientes com câncer de pulmão que apresentam mutações no HER2.
O que é o HER2?
O HER2, ou Receptor 2 do Fator de Crescimento Epidérmico Humano, é um receptor de tirosina-quinase localizado na membrana das células epiteliais normais. Ele desempenha um papel crucial na ativação de vias de sinalização intracelular que promovem o crescimento e a diferenciação celular. Em algumas neoplasias malignas, o HER2 pode estar hiperexpresso ou mutado, tornando-se um biomarcador-alvo para o tratamento, especialmente em tumores de mama e estômago.
Mutação do HER2 em Câncer de Pulmão
Nos últimos anos, o HER2 tem sido investigado em diversos tipos de câncer, incluindo câncer colorretal e câncer de pulmão. No contexto do câncer de pulmão não pequenas células, a mutação do HER2 é frequentemente observada em mulheres e em pacientes que nunca fumaram. O National Comprehensive Cancer Network (NCCN) recomenda que todos os pacientes com câncer de pulmão não pequenas células metastático sejam testados para mutações no HER2, juntamente com outros biomarcadores moleculares conhecidos como EGFR, ALK, KRAS, ROS1, BRAF e NTRK.
Trastuzumabe Deruxtecana (T-DXd)
O trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) é um conjugado de anticorpo-medicamento que combina o trastuzumabe, um anticorpo monoclonal direcionado ao receptor HER2, com o deruxtecana, um inibidor de topoisomerase I. Esta combinação tem demonstrado atividade antitumoral em pacientes com mutações ou hiperexpressão do HER2. O T-DXd foi inicialmente testado em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células em um estudo de fase 2 denominado DESTINY-Lung01, envolvendo pacientes com doença metastática ou irressecável e com mutações HER2 ativadoras que apresentaram progressão após tratamento padrão.
Resultados dos Estudos DESTINY
O estudo DESTINY-Lung02, também de fase 2, avaliou a eficácia e a segurança do uso de trastuzumabe deruxtecana em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células irressecável ou metastático com mutação HER2 ativa que já haviam sido tratados anteriormente. Um total de 152 pacientes foi randomizado para receber T-DXd nas doses de 5,4 mg/kg ou 6,4 mg/kg a cada três semanas. Dos 102 pacientes que receberam a dose de 5,4 mg/kg, um paciente apresentou resposta completa e 49 pacientes tiveram resposta parcial. A mediana de sobrevida livre de progressão foi de 9,9 meses, e a estimativa de sobrevida global em 12 meses foi de 67% na dose de 5,4 mg/kg, com respostas ocorrendo independentemente dos tratamentos prévios realizados.
Segurança e Efeitos Adversos
Em termos de segurança, o efeito adverso mais comum observado foi náusea, seguido por neutropenia, fadiga e perda de apetite. Efeitos adversos graves (grau 3 ou mais) ocorreram em 38,6% dos pacientes que receberam 5,4 mg/kg e em 58% na dose de 6,4 mg/kg, com neutropenia e anemia sendo os mais destacados. A descontinuação do tratamento devido a efeitos adversos foi relatada em 13,9% dos pacientes na dose de 5,4 mg/kg e em 20% na dose de 6,4 mg/kg.
Pneumonite ou doença pulmonar intersticial (ILD) relacionada ao uso de T-DXd ocorreram em 12,9% dos pacientes que receberam a dose de 5,4 mg/kg e em 28% na dose de 6,4 mg/kg. Nos casos de pneumonite induzida por T-DXd, a descontinuação do tratamento é recomendada em caso de toxicidade grau 2 ou superior. Para toxicidade grau 1, pode-se considerar a retomada do tratamento na mesma dose se a resolução for completa em menos de 28 dias, ou em dose reduzida se a resolução demorar mais de 28 dias.
Conclusão
A utilização do trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) na dose de 5,4 mg/kg a cada três semanas apresenta-se como uma nova opção terapêutica para adultos com câncer de pulmão não pequenas células irressecável ou metastático portadores de mutações ativadoras HER2 que já receberam terapia sistêmica prévia. Os estudos DESTINY-Lung 01 e 02 demonstram taxas de resposta clinicamente significativas e um perfil de toxicidade aceitável, tornando essa estratégia de tratamento promissora na oncologia.
Referências
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