Adenocarcinoma Metastático de Pâncreas Tem Tratamento Curativo?

Adenocarcinoma Metastático de Pâncreas: Há Chance de Tratamento Curativo?

O adenocarcinoma de pâncreas é uma neoplasia com um prognóstico geralmente reservado, sendo classificado como o 12º tipo mais comum de câncer e a 7ª causa de óbito por câncer em nível global. A sobrevida em cinco anos para pacientes diagnosticados com essa condição é estimada em apenas 11,5%. O único tratamento que pode oferecer uma chance de cura é a cirurgia, mas apenas cerca de 20% dos pacientes diagnosticados são candidatos a essa abordagem cirúrgica. Além disso, aproximadamente 30% dos pacientes são considerados borderline no momento do diagnóstico e podem ter a possibilidade de tratamento cirúrgico após a realização de terapia neoadjuvante.

Infelizmente, a realidade é que a maioria dos pacientes com adenocarcinoma de pâncreas já apresenta metástases à distância no momento do diagnóstico. A American Society of Cancer estima que a sobrevida em cinco anos para pacientes com adenocarcinoma pancreático em estágio IV é de apenas 2,9%. Recentemente, uma meta-análise foi realizada para avaliar os resultados de diferentes abordagens de tratamento para casos de câncer de pâncreas metastático.

Métodos da Análise

A meta-análise consistiu em uma revisão sistemática que avaliou estudos observacionais comparando os resultados de pacientes com adenocarcinoma metastático de pâncreas que foram submetidos a ressecção cirúrgica ou a tratamentos ablativos, como radiofrequência ou micro-ondas, em comparação com aqueles que receberam apenas quimioterapia ou cuidados paliativos. O principal desfecho analisado foi a sobrevida global, com os desfechos secundários incluindo a sobrevida em um e três anos.

Resultados e Discussão

Após uma cuidadosa seleção dos estudos, foram analisados 16 estudos retrospectivos publicados entre 2016 e 2023, envolvendo um total de 1926 pacientes. Desses, 715 foram submetidos a ressecção cirúrgica e 1211 a tratamentos não cirúrgicos. Para a análise do desfecho primário, sete estudos foram considerados elegíveis, totalizando 1106 pacientes, dos quais 458 foram submetidos a ressecção cirúrgica e 648 a tratamentos paliativos. Os resultados mostraram que os pacientes submetidos a ressecção cirúrgica apresentaram resultados significativamente melhores, com um Hazard Ratio (HR) de 0,42 (IC 95% [0,33-0,53]).

Além disso, a análise por subgrupos revelou que pacientes com metástase hepática isolada que foram submetidos a ressecção cirúrgica também apresentaram resultados significativamente melhores em comparação com aqueles que receberam apenas tratamentos paliativos (HR: 0,40; IC 95% [0,29-0,53]). No que diz respeito aos pacientes com metástases pulmonares, apenas um estudo mencionou essa localidade, impossibilitando a realização de uma meta-análise mais ampla.

Quanto aos desfechos secundários, a sobrevida em um ano foi analisada em cinco artigos, envolvendo 1254 pacientes, e revelou uma diferença estatisticamente significativa, com melhores resultados para aqueles submetidos a ressecção cirúrgica (OR: 0,31; IC 95% [0,21-0,46]). Nos subgrupos, apenas os pacientes com metástase hepática isolada mostraram resultados significativamente melhores. A sobrevida em três anos também foi superior nos pacientes do grupo de ressecção cirúrgica, embora a significância estatística tenha sido observada apenas em pacientes com metástase hepática isolada (OR: 0,22; IC 95% [0,06-0,83]).

Implicações Clínicas e Futuras Pesquisas

Esses achados sugerem que existem pacientes com perfis biológicos que podem se beneficiar da ressecção cirúrgica, especialmente aqueles com metástases hepáticas isoladas que são potencialmente ressecáveis. Critérios como o “ABCD” da metastasectomia, introduzido por Omiya et al., que considera a redução do tumor, níveis de Ca19.9, escore de prognóstico e duração do tratamento neoadjuvante, são ferramentas valiosas na seleção adequada desses pacientes.

Em resumo, o estudo indica que o tratamento cirúrgico pode resultar em melhores desfechos para pacientes com adenocarcinoma metastático de pâncreas, especialmente aqueles com metástases hepáticas isoladas. Contudo, é importante ressaltar que se trata de uma análise retrospectiva. Atualmente, dois estudos clínicos fase III estão em andamento, investigando os resultados cirúrgicos em pacientes com adenocarcinoma metastático do pâncreas, nomeadamente o CSPAC-1 e o METAPANC-trial. Esses estudos focam em pacientes com metástase restrita ao fígado e podem oferecer perspectivas promissoras para o tratamento desta condição desafiadora.

Referências

Tarek K, Amine TM, Rami R, Amal A, Francesca G, Stephane S, Tullio P. Is there a chance for curative treatment for metastatic pancreatic adenocarcinoma? A systematic review with meta-analysis. Langenbecks Arch Surg. 2025 Sep 10;410(1):269. doi: 10.1007/s00423-025-03778-6.

Omiya K, Maekawa A, Oba A, Inoue Y, Hirose Y, Kobayashi K et al (2024) A proposal of ABCD metastasectomy criteria for synchronous/metachronous metastatic pancreatic cancer in the era of multidisciplinary treatment. Br J Surg 111(1):znad417.


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